É impossível ser feliz sozinho

28 de dezembro de 2010

Torres

Ao desligarmos as luzes, tudo é tão escuro que com os olhos abertos parecemos estar com eles fechados, e quando assim estão, duvidamos...




- Acorde, está claro, não vê?

Não feche os olhos, a Íris aos poucos o ajudará a ver mais claro. Perceba... Desligue as luzes, desligue-se do mundo, deixa o tempo passar e tudo ficar nítido. Enxergue no escuro, as cores que possui estão diante de si. Deixe de alongar essa torre, não é preciso tanta proteção, não se pode chegar tão alto, veja Babel... Seja apenas peça do nosso jogo de xadrez, uma pequena torre comparada as outras, me ensine a jogar, e se eu ganhar, me engane dizendo que foi sorte de principiante.

Torres, Iris, altas cores, torres altas, Iris das cores... Claro e escuro. Acorde! Já podemos ver tudo. ‘’ Agora que tudo está exposto, a máscara e o rosto trocam de lugar’’.

23 de dezembro de 2010

Foi o sono (1:30)

Acordei com mil palavras, talvez mais, mas só reconheci mil, não sei ao certo o que eram, o que queriam, o que significavam. Fiquei com elas presas, guardada secretamente em um coração lotado, na verdade em uma cabeça lotada. Meu olhar fez-se vago, vaso sem flores, vazio... como vou dizê-las? Eu tenho que dizê-las?


Acordei com mil palavras, todas de um idioma desconhecido, adquiri outras tantas ao longo do dia. Algumas queriam meu sorriso, outras apenas o líquido que aguaria as flores inexistentes (se estas existissem) do meu olhar de vaso, vago, vazio...

Acordei com mil palavras sem verbetes, sem traduções, sem explicações... Droga! Confundi tudo, na verdade eram sentimentos, e para eles sequer existem palavras.

22 de dezembro de 2010

Doce engano

Enganar: Iludir; seduzir; disfarçar; errar; engabelar.

O que faz um engano ser amargo? Estar iludido é uma sensação agradável desde que a ilusão não se quebre, que a imagem vista no espelho retrate fielmente o que você é ainda que seja apenas um reflexo. Seduzir, seduzir-se é no mínimo satisfatório. O sedutor deixa o ego gritar, o seduzido deixa-se iludir, talvez disfarce, e até erre com isso. Engabelar... Enganar, fingir que é o que ninguém acredita nem mesmo você. Dizer o que sente na intenção de não admitir, embora sinta o que realmente está dizendo. Estratégias tolas arrancam sorrisos...




Permaneça enganando, permaneça enganado, pois este engano é doce, eu não conheço o amargo.

18 de dezembro de 2010

Rapaz de azul.

Castanhos! A Íris quis assim. ‘’Olhos de ler código de barra’’, e eu que fotografo o que existe, sei das cores e da luz, não posso com tais olhos de menino pidão. Perco o controle, não sei mudar o canal, já não tenho o comando.


Metonímia, sinestesia... Quantas figuras serão necessárias para que eu seja apenas uma? Sem medos, sem dúvidas, sem confusões, sem sentidos, sem sentir, sem partes, sem um todo. Com pequenos pensamentos, sem os olhos do menino, sem as cores do arco, sem os braços de lençol, sem as tardes agradáveis...

Não há vantagem em ser simples. Prefiro ser várias, prefiro ser duas, prefiro nós dois: O colorido e o colorir. Ser mensageira, passageira, talvez. O importante é sempre falarmos a nossa frase mais batida... ‘’ Eu quero.’’

11 de dezembro de 2010

Andar por três pontos que nunca acabam. Falta uma palavra, falta parte de uma história, a continuação dela sem saber onde é o fim. Infinito? Não, apenas acabará mais tarde, apenas  não é a palavra certa, o momento certo, ai (reticências). Decepcionar não é um privilégio dos nossos inimigos, estes batem na porta das nossas casas e nós sequer escutamos, decepcionar-se não culpa ninguém, apenas os decepcionados, que esperam algo de alguém, que gostam dos decepcionantes.
Eu comparo nuvens com algodão doce, um louco do ponto de ônibus com todas as pessoas do mundo, com todos os loucos do mundo. Comparo corações com casas... E agora? Chegamos ao único ponto, ou devo colocar os três pontos?  Caminhar por eles é viver uma história que teve fim, mas não teve final. E agora? Que história é essa? Como devo terminá-la?

7 de dezembro de 2010

A casa II (pra finalizar a história)

- Então... Quer dizer que está à venda?

- Sim, a moradora saiu...

- Quanto custa?

- Olha, é bem caro sabe? Outra coisa, a casa tá quebrada, com tudo fora do lugar, paredes ao chão, meio abandonada, até eu estou descrente para vendê-la. Você tem interesse?

- Não. Falando assim, você realmente não vai vendê-la.

Este foi o meu diálogo com o dono da imobiliária... Ouvi dizer que a casa estava sozinha, passei pela calçada, a observei, tentei ver o que havia por dentro, mas não pude. A poeira cobria os cômodos, a sujeira de uma vida estava ali, a solidão de dois seres perdeu-se naquele meio ... Era a ex moradora e a casa, e eu nada sei sobre elas. Será que a antiga moradora deixou algum pertence? Talvez não, afinal o dono quer vendê-la, ou talvez sim, afinal ele está tão desacreditado. Se for verdade, não vejo mal algum. Há tantos donos por ai que se dizem crentes e não são, prefiro os descrentes, estes nos mostram realmente como a propriedade está, talvez até encontre pessoas dispostas a cuidarem da casa... Limpar, lavar, aguar as plantas. Pensando assim, lembro-me de pergunta do vendedor ‘’ você tem interesse?’’ Se ele quisesse me doar a casa, talvez até eu tentasse... Não, eu não sou boa Dona do lar! Ah como eu queria passar uns dias nessa casa, ah, definitivamente, como eu não queria.

2 de dezembro de 2010

A casa

Porta fechada, janelas fechadas. Recebe declarações discretas e possui reações tão discretas quanto.  Paredes brancas, claras, pude ver pela brecha da janela, porém os cômodos são pequenos. Apenas uma moradora, algumas passam um tempo, mas esta, não, ela não sai. Porta fechada, janelas fechadas... Ah como eu queria passar uns dias nessa casa, ah, e como eu não queria! Prefiro observar de fora, não dá pra ver quase nada, mas eu sei quem mora lá. Um dia passei em frente, olhei, acho até que ouvi uma voz chamando-me... Bobagem, casas não falam. Porta fechada, janelas fechadas, coração fechado.