É impossível ser feliz sozinho

26 de novembro de 2010

Sentado no ponto de ônibus sem esperar nada ele observava os carros, as buzinas gritando, as pessoas reclamando do transporte público atrasado, outras correndo para pegá-los e ele ali, sentado, repito, sem esperar nada.


De repente o homem no qual prefiro não dizer as características, começa a gritar, falar alto com o suposto inexistente, porém, ainda sentado e olhando tudo em sua volta. Alguns diziam: ‘’ ele é louco’’, outros olhavam assustados, desprezando-o. Ele parecia entender as críticas, mas não ligava, falava cada vez mais alto, xingava, discutia com alguém cuja resposta não era ouvida pelos demais.

Uma senhora o observava atentamente, tanto que acabou perdendo o ônibus que esperava, ao perceber tal fato, pôs-se a ofender o motorista andando em círculos, reclamando por este não tê-la esperado. Irônico, ela não falava com ninguém, andava em círculos, mas não houve um só indivíduo para chamá-la de louca. O homem calou-se por alguns instantes, agora, apenas observava.

Um casal aparentemente apaixonado chega ao ponto de ônibus. Beijos, abraços e planos eram expostos para quem quisesse ver e ouvir... De repente, eles entram em discordância, começam a expor os seus defeitos, esquecer as qualidades, desfazer os planos e... pronto, cada um foi para um lado. Era possível ouvir alguns dizendo ‘’ Ah, o amor é assim mesmo’’. O homem retornou ao seu diálogo de uma só voz, gritante. As pessoas insistiam em chamá-lo de louco, eu, já não agüentando tamanha injustiça, sentei ao lado do homem e passei a gritar sozinho, ele parou e iniciou um diálogo comigo:

- O senhor também os conhece?

- Conheço quem?

- Os meus amigos. Percebo que me chamam de louco, mas penso que é puro preconceito. Existe gente de todo tipo, jeito, cor, enfim... Mas as pessoas não gostam dos incolores, acho isso injusto.

- Bem, eu não os vejo. O senhor deve estar mesmo louco. Procure ajuda!

- Não, sendo assim você quem está. Pois ao menos estou conversando com os amigos que eu penso que existem, já o senhor, coitado, estava ai, falando sozinho.

6 de novembro de 2010

- É como ter e não ter, afinal ninguém é meu e eu não sou de ninguém. É como ser e não ser, pois tento distribuir risos através do meu largo sorriso... Sorrisos, muitas vezes silenciados em um quarto escuro e solitário. É como abraçar sem ter braços, pois ainda que eu tivesse cem braços eu não conseguiria agarrar o que quero, quem eu quero. É como ser pequeno, tão minúsculo ao ponto de caber na palma de uma mão, ao ponto de escapar por entre os dedos e ninguém notar. É como... Ah, eu nem sei o que é, mas é como gritar e não ser ouvido, estar sufocada, afogando-me em um mar sem água...



- Eu sei o que é! É...



- Cale-se coração! Esqueceu? Eu não quero ouví-lo.

1 de novembro de 2010

Sentimental

''O quanto eu te falei?


Que isso vai mudar

Motivo eu nunca dei

Você me avisar, me ensinar

Falar do que foi pra você

Não vai me livrar de viver



Quem é mais sentimental que eu?

Eu disse e nem assim se pôde evitar



De tanto eu te falar

Você subverteu o que era um sentimento e assim

Fez dele razão pra se perder

No abismo que é pensar e sentir

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim


Eu sei, não é assim, mas deixa

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim

Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir.''